What If: E se os X-Men fossem para o Rio de Janeiro?

Marcio Rosa
3 min readJan 22, 2022

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Os X-men tinham acabado de resolver mais uma treta espacial entre os Shiar (e aquela chata da Lilandra) e o Apocalipse e vieram tirar uns dias de férias no Rio de Janeiro. Todos ficaram impactados com a beleza da Baía de Guanabara quando o Pássaro Negro se aproximou do aeroporto Santos Dumont.
No espaço não tem internet, não funciona celular. Aproveitaram para fazer um detox digital, se afastar desse lamaçal que tinha virado o noticiário. O dia estava perfeito, aquele sol azul sem nenhuma nuvem reluzindo na pele metálica do Colossus, no óculos do Ciclope, na careca do Xavier, e prometia toda sorte de alegria tropical.
Ficavam sempre hospedados na Pedra do Sal, zona portuária, na casa do Lelê, um figura que tinha vindo de São Paulo mas que tinha sido adotado pelo Rio. “Sou uma pessoa desorganizada, me diluo na confusão da cidade”, explicava para o Ciclope, que queria entender melhor como a cidade funciona. O malandro ria enquanto ajeitava o chapéu. Sentados no sofá da sala, Magneto e Xavier jogavam palitinho e tomavam cerveja com o Hugo, um vascaíno doente que dividia a casa com o Lelê:
— Nossa, se tivesse me dito que um maluco como esse Bolsonaro ia ser presidente do Brasil eu não ia acreditar. Nem nos meus maiores sonhos de vilão — disse Magneto, pedindo três enquanto olhava firme para Xavier.

— Deve ser algum tipo de manipulação mental, só pode. Eu apostaria no terrível Rei das Sombras. Quatro — disse estendendo a mão fechada para o centro da mesa.

— Nada. Foi só fake news, desilusão e milícia mesmo. Quero cinco — Hugo tomou um gole de cachaça, e deu uma piscadinha quando contou os palitos nas mãos abertas.
Quando o Homem de Gelo chegou de volta da praia, todos viram que viver no Rio não era fácil. E que teriam que fazer alguma coisa.
— Como assim você foi roubado, cara? Um X-men treinado, foi furtado em Copacabana? — perguntou Tempestade.

— Você que era uma ladra, e que viveu no terceiro mundo, pode achar graça, mas eu não pude fazer nada. Quando percebi que o boy tinha me roubado, já era tarde.

— E porque você não congelou ele?

— Nesse calor, querida? Tá brincando comigo, né?
Xavier entrou na sala irritado, depois de perder mais de dez partidas seguidas. "Esse rapaz deve ter algum poder especial. Não é possível". Um churrasco rolava no quintal, todos bebiam cerveja e falavam alto, vestidos de collant ou de bermuda e sem camisa. Perguntou onde estavam os seus alunos. Colossus e Lince Negra tinham saído para passear. Ele tinha vindo da Sibéria e não estava acostumado com esse calor todo. Wolverine e Jean Grey nem deram atenção ao professor, concentrados em um outro casal de cariocas bronzeados. De longe, Ciclope olhava, todo cúmplice. 
— Precisamos ajudar esses pobres coitados dos brasileiros. Enfrentar o crime organizado, a corrupção, e botar uma ordem nessa cidade — bradava Xavier, já meio bêbado. Não estava acostumado a tomar cachaça, ainda mais nesse sol. Encostado na porta, Lelê olhava de canto de olho enquanto acendia um cigarro.

— Mais fácil se pedisse ajuda pro santo — observou enquanto alisava a guia vermelha e preta que trazia embaixo da camisa branca aberta.
O samba comia solto no final da tarde na entrada da Pedra do Sal, que estava lotada naquela segunda-feira quente. Um trovão caiu nessa hora. Todos olharam para Tempestade, mas nessa hora ela estava rebolando até o chão. Enquanto isso, em outro lugar, Iansã debochava com São Sebastião:
— Tem que ter muito super poder pra ser herói na cidade maravilhosa!

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Marcio Rosa

Realismo mesmo é ficção científica. @marcioraz [ele/dele]